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Retrópica

 

Retrópica é um espetáculo solo que, através do corpo, negocia os atritos da cultura tipo exportação existentes entre Brasil e Espanha. Sem olá nem adeus a capitania desse trabalho é antropófaga, não tem carcaça, é desatracada e transcultural. Retrópica não se fixa no samba ou no taconeo, mas sim busca o trânsito existente entre eles.

O Brasil teve que ser redescoberto por um tratado ibérico católico que não carrega nenhum tipo de romance. Foi a nossa América quem pariu a modernidade europeia, sem embargo, nos empanturraram de catequismo e só nos restou mamar o leite da pedra. O nosso herói é bárbaro e tem plexo de mulher, o nosso herói é a ama de leite, que, no intervalo alimentício da criança de outros, mantém cachorros sugando seu fluido, nosso sangue.

Mergulhados na fissura da nação do tropicalismo, da doença tropical, seguimos sem lenço mas com samba no pé. O matriarcado de Pindorama é um achado, ele e a tal da ginga garantem o desrecalque localista e a ressignificação de tudo aquilo que teve que morrer para que nós nascêssemos. Enquanto o neocolonialismo, o fanatismo, a intolerância, a imoralidade e o medo nos atropela, Retrópica é mulher. É tupi, é cigano, é a dança pélvica do "vox clamantis in deserto”, é tabu sem totem. É fome, é tesão, é o puro mel que ainda escorre das veias do Equador.

CRÍTICA

Veronica Posth // Revista SeeingDance (Berlim)

¨Retrópica é um trabalho lindamente estratificado que lida com os aspectos ecléticos que definem uma mulher. As metáforas de Paula são entrelaçadas com força, carisma, destreza, beleza, autoconfiança e ironia, todas fundidas de uma maneira brilhante e divertida.¨

 

Nicola Campanelli // Revista Campadidanza (Italia)

¨Retrópica é uma representação interessante, bem construída, agradável de ver, interpretada com ferocidade, força e energia. É uma obra cheia de conteúdos importantes que oferecem inúmeros pontos de reflexão.¨

Andreia Evangelista // Revista ArtCult (Brasil)

¨Retrópica é um espetáculo solo que denuncia as dominações dos sentidos pelo neocolonialismo, também aborda sobre o fanatismo e intolerância [...]. Destas reverberam os atravessamentos gestuais que vão do samba ao flamenco, rasgando a espacialidade com um corpo que traz a cena o informe de ser mulher – um campo alvo do estupro do colonizador na terra sul-americana.

SOBRE O PROJETO

Trata-se um trabalho solo da bailarina e coreógrafa brasileira Mari Paula que, através do corpo, manifesta a influência que existe entre duas culturas friccionadas além do tempo e das fronteiras. O trabalho recebeu o Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna e, entre 2017 e 2019, foi apresentado em teatros e festivais da América Latina, África e Europa.


A pesquisa atualiza o conceito de Antropofagia Cultural: "comer, digerir e apropriar-se de um evento cultural", aplicando-o ao campo do corpo em movimento de maneira híbrida e ritualizada. É uma sugestão, um convite a novos procedimentos de criação em dança e performance, com profundo interesse em desestabilizar o homogêneo e as hierarquias que empobrecem as experiências corporais ou reduzem a capacidade criativa.

FICHA ARTÍSTICA​

Concepção, coreografia e performance: Mari Paula

Orientação coreográfica: Airton Rodrigues e Ángela Donat

Orientação dramatúrgica: Giorgia Conceição, Leonarda Glück e Ricardo Nolasco

Textos: Leonarda Glück e Luis Pablo Beauregard 

Iluminação: Trio Desenho de Luz 

Direção musical e Trilha sonora: Fernando de Castro

Figurinos: Mari Paula

Fotos: Cayo Vieira

Vídeo: Livea Castro Calvo 

Produção e Coordenação: Jorge Schneider e Simone Bönisch - ABABTG

Realização: Funarte - Ministério da Cultura, Brasil

Estréia: Agosto de 2017

Este espetáculo recebeu o Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna - Ministério da Cultura - Brasil.

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